"Não conseguiram nos destruir", disse a ex-presidenta,
que apontou "três nós" para o país: bancos, mídia e petróleo. Para
ela, anular o impeachment é "exigência histórica". E é preciso
"repartir riqueza"
Depois de identificar as leis 13.467 (de
"reforma" trabalhista, "o momento mais triste da pauta") e
13.429 (terceirização ilimitada) como principais derrotas impostas aos
trabalhadores, a ex-presidenta Dilma Rousseff considerou o impeachment
politicamente fracassado, por não ter continuidade do ponto de vista
eleitoral e não ter conseguido "destruir" seus adversários, como o
PT, ela própria, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o movimento
sindical. "Acho que o golpe é um fracasso político", afirmou, durante
visita ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, na região
central da capital paulista, na noite desta quinta-feira (14).
Dilma abriu um ciclo de debates na entidade, que
teve como primeiro apresentador o ex-ministro da Previdência Carlos Gabas.
"Duas visões de mundo irão polarizar a disputa eleitoral, uma que imprime
a barbárie ao focar apenas no capital especulativo em detrimento do bem-estar
das pessoas, e outra que defende a humanidade, as liberdades e as conquistas do
povo", disse Gabas. Também estavam presentes a ex-ministra Eleonora
Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, e o vereador paulistano
e ex-senador Eduardo Suplicy.
Segundo a ex-presidenta, o país tem "três
nós" a desatar: a concentração da mídia e do setor financeiro, além da
estratégica do petróleo. Ela inclui a tentativa de reduzir o spread bancário
como um dos fatores de sua queda.
Dilma afirmou que o "partido golpista"
não tem candidato. Além disso, conseguiu trazer de volta "a caixa dos
monstros, que é a extrema-direita", segmento que ocupa uma parte do espaço
conservador. Mas "não conseguiram nos destruir", acrescentou,
referindo-se ao "lulopetismo" e lembrando que os embates vão
continuar. "Só temos uma saída: lutar e resistir".
Lava Jato e instituições
Referindo-se ao chamado lawfare,
"o uso da lei como forma de destruir o inimigo", ela disse considerar
absurda a Operação Lava Jato em relação ao ex-presidente. A "terceira fase
do golpe", como disse, que foi a prisão de Lula. "Esse processo está em
curso." Mas Dilma acrescentou que, ainda assim, ele aumentou sua
popularidade e reduziu a rejeição. Também considerou um "momento
forte" o recente movimento dos caminhoneiros: "Não pelo que eles
expressam na sua ideologia, mas porque eles sofrem, como todos os
trabalhadores, e se manifestaram".
Segundo a ex-presidenta, além do ataque a direito,
o golpe destruiu as instituições. "A barbárie é não reconhecer que a
política é importante, que a democracia é possível sem partidos, sem lideranças
políticas, sem iniciativas comunitárias, sindicais, das mulheres", disse,
referindo-se ao tema do debate. "Não podemos achar bom passar a Embraer
para a boeing, que é a grande concorrente da Embraer. Não podemos achar bom que
destruam o estado nacional", afirmou.
Depois do golpe em 2016, quando "éramos
apedrejados", Dilma acredita que "já demos um pouco a volta por
cima". Para ela, depois das eleições talvez seja necessário convocar uma
assembleia constituinte "ou um processo muito duro dentro do próximo
parlamento". A eleição, acrescentou, deve demonstrar a capacidade de
resistência. "Aposto todas as minhas fichas, boto a minha mãozinha no fogo
por nós. Jamais fomos os intolerantes, aqueles que destilaram ódio, que criaram
o confronto, o conflito e a briga."
Dilma considera "extremamente difícil"
não haver eleições neste ano, como alguns receiam. "Teriam um
problema de legalidade e legitimidade maior do que eles têm hoje, e olha que
eles têm um problemão", comentou. A ex-presidenta disse não ter
"pretensão" de voltar à Presidência, mas reiterou que "anular o
impeachment é uma exigência histórica".
Ela também refutou o que citou como tese
neoliberal, "uma característica do Aécio Neves", que é o chamado
choque de gestão. "Se eu tiver uma única conclusão, depois de ter sido
ministra-chefe da Casa Civil do presidente Lula e meus anos de presidência, só
tem uma conclusão, que é absolutamente incrustada em mim: não é possível fazer
mais com menos só por conta da gestão. É mentira", afirmou Dilma.
"Gerir melhor não é fazer alquimia e mágica, é gastar o dinheiro público
de forma correta, honesta e límpida. Gerir melhor não faz o milagre dos pães e
dos peixes. Esta é uma das maiores, já que a palavra é moda, fake news que
eu já vi."
Defensora de uma reforma tributária, ela se manifestou
favoravelmente à CPMF e à tributação sobre dividendos, heranças e grandes
fortunas. E lembrou, em comparação com "planos-piloto tucanos", que
"nunca fizemos programa social para 100 ml pessoas, mas para
milhões". Mas falou em uma "nova etapa" nesse campo: "Isso
é renda. Temos de dar um passo a mais. Vamos ter de repartir riqueza".
Depois de Gabas, que disputará uma vaga na Câmara
dos Deputados, deverá participar do ciclo de debates o ex-presidente da
Petrobras José Sergio Gabrielli. "Vamos demonstrar que o Brasil pode e
deve continuar com as políticas de crescimento econômico e inclusão social
iniciadas pelo presidente Lula", afirmou o ex-ministro da Previdência.
Fonte: CUT Nacional
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