domingo, 15 de julho de 2018

O que é verdadeiro e falso no debate dos agrotóxicos

Foto: Reprodução Montagem: Chapecó Online

A discussão em torno do projeto de lei apelidado de PL do Veneno por ambientalistas acirrou os ânimos entre estes e os ruralistas. Os primeiros argumentam que ao centralizar a avaliação de novos produtos no Ministério da Agricultura, o que tira poder do Ibama e da Anvisa, estaríamos sujeitos a riscos ambientais e de saúde sem precedentes.
Por outro lado, para empresários rurais e para a indústria química, a maior facilidade na regulação e distribuição dos pesticidas ajudaria o país a manter a produtividade no campo.
No momento, o PL 6.299, que tramita em regime de prioridade, encontra-se pronto para ser pautado no plenário da Câmara.
Em meio à guerra de versões, a Folha traz o que a ciência e os cientistas têm a dizer sobre o tema, em 17 perguntas e respostas.
DEFINIÇÃO
  1. Agrotóxico é a mesma coisa que defensivo agrícola e pesticida? Sim. A diferença está relacionada à decisão de enfatizar determinado aspecto com a escolha da palavra (outro termo usado é fitossanitário). Agrotóxico está correto, já que se trata de substância tóxica usada na agricultura.
O mesmo vale para defensivo agrícola, uma vez que o objetivo da aplicação é defender as plantações. Pesticida quer dizer simplesmente “o que mata pragas”, enquanto a definição de praga, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e o Ministério da Agricultura brasileiro, é: “Qualquer forma de vida vegetal ou animal, ou qualquer agente patogênico daninho para os vegetais ou produtos vegetais”. Portanto, não há erro em usar nenhum dos termos acima.
  1. Quais são os tipos de agrotóxicos? O que eles fazem? Há uma enorme diversidade de usos e de composição química dessas substâncias. Além da divisão funcional em herbicidas (contra ervas daninhas), inseticidas e fungicidas, é possível classificá-los de acordo com seu mecanismo de ação sobre as pragas.
Os inseticidas organofosforados e carbamatos, por exemplo, atacam seus alvos afetando a regulação de uma das principais moléculas mensageiras do sistema nervoso.
Os neonicotinoides, também usados contra insetos, atacam outro elemento desse mesmo sistema de mensagens nos neurônios dos insetos, levando-os à morte.
Certos herbicidas, como o glifosato, afetam a produção de aminoácidos, os “tijolos” moleculares usados para montar as proteínas.
Há ainda os que levam à perda de folhas ou à dessecação dos tecidos das plantas, ou os que alteram seus processos de crescimento e maturação.
3. O Brasil é o país que mais usa agrotóxico do mundo? NÃO
  • China é um dos países onde mais se intensificou a o uso de agrotóxicos nos últimos 15 anos;
  • América Central é uma das regiões com uso mais intenso de pesticidas;
  • Brasil ocupa a 51ª posição entre 164 países ou territórios analisados com 3,3 kg/ha/ano.
AMBIENTE
  1. As moléculas dos agrotóxicos são biodegradáveis? Em princípio, são —para serem aprovados hoje, os pesticidas precisam ter um tempo de vida relativamente curto na natureza, numa escala de tempo entre dias e semanas.
Também se recomenda que haja um intervalo adequado entre a aplicação dos defensivos e a chegada do produto ao mercado, para que haja tempo de essa degradação da substância acontecer, bem como cuidados óbvios (a lavagem adequada dos alimentos). Micro-organismos, a chuva e a luz solar estão entre os fatores que ajudam a “quebrar” as moléculas nocivas.
Entretanto, há vários indícios de que esse processo está longe de ser perfeito. O lençol freático de países desenvolvidos frequentemente traz quantidades acima do recomendado de agrotóxicos —inclusive daqueles já proibidos há vários anos.
E as versões degradadas das moléculas —não o pesticida original, mas “pedaços” moleculares dele— também costumam persistir com alguma frequência, com efeitos ainda muito pouco conhecidos.
  1. Pesticidas estão matando as abelhas e outros insetos polinizadores? Ainda não há um veredicto claro, embora os indícios sejam preocupantes. As substâncias que talvez estejam provocando ou potencializando outras causas do colapso de colmeias no hemisfério Norte são os neonicotinoides (como o nome sugere, derivados da nicotina) e as formamidinas.
Estudos feitos em laboratório indicam que os neonicotinoides atrapalham as capacidades olfativas de abelhas domésticas, afetando a busca de alimento, a memória e o aprendizado.
A questão, porém, é saber se as concentrações usadas desses inseticidas num contexto agrícola real seriam suficientes para produzir colapsos de colmeias.
Fonte: www.chapecoonline.com.br

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