segunda-feira, 23 de abril de 2018

Falta de dinheiro e planejamento ameaça obras da transposição do São Francisc

Foto: Tiago França / MPF-PB
Custo final da obra será superior a R$ 10 bilhões, estima CGU.
Responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, as obras de transposição do rio São Francisco estão sob risco devido à falta de planejamento para manutenção e operações. O problema de gestão é agravado pela alegada inexistência de verbas para custeio do empreendimento. É o que revela auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), em relatório que também identifica falhas de execução que comprometem a sustentabilidade da transposição.
 
De fato iniciada em 2007, quando o Exército começou os trabalhos no eixo leste, a obra ainda está em execução no eixo norte. Parcialmente inaugurada há cerca de um ano, teve custo de execução de R$ 10,7 bilhões. A despesa final prevista pela CGU é de cerca de R$ 20 bilhões.
 
Em colaboração para o portal UOL, o repórter Carlos Madeiro lembra que o eixo leste da transposição foi inaugurado, em março de 2017, em meio à tumultuada visita do presidente Michel Temer (MDB) ao canteiro de obras no sertão da Paraíba – ele chegou a ser vaiado por populares em alguns momentos do compromisso (vídeo abaixo). Já o eixo norte tem mais de 90% das obras concluídas e, prevê o governo, deve ser inaugurado ainda em 2018.
 
A visita oficial de Temer foi confrontada em evento promovido pelo PT e por lideranças regionais a título de “inauguração popular”, ou “simbólica”, nove dias depois da ida do emedebista ao nordeste. A inauguração alternativa teve a presença dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, que reivindicaram os méritos por terem tirado o empreendimento do papel.
 
A reportagem informa ainda que o canal já inaugurado corta cinco municípios pernambucanos por 217 quilômetros até a divisa com a Paraíba. O Ministério da Integração Nacional diz que um milhão de pessoas já foram salvas do colapso no abastecimento de água. No entanto, ressalva a CGU, “verificou-se que não há um planejamento estruturado” para operação e manutenção da obra.
 
“Não foi elaborado cronograma com tarefas/atividades, duração, vínculos de precedência e responsável”, acrescenta a auditoria da CGU, para quem o Ministério da Integração Nacional “não detém estrutura adequada para a gestão da transposição”.
 
O relatório aponta ainda a inexistência de “mecanismos de direcionamento estratégico e controle que proporcionem maior previsibilidade e assegurem a execução do programa”. O Ministério da Integração Nacional foi questionado pelo portal e, em resposta, disse ter priorizado estruturas situadas no “caminho das águas”, com o “objetivo de atender rapidamente à população com risco de colapso no abastecimento”.
 
“A estratégia possibilitou a chegada da água a Monteiro (PB), em janeiro de 2017, e ao reservatório Epitácio Pessoa, em Boqueirão (PB), em março de 2017. É importante destacar que a ordem de agilizar a chegada das águas reduziu a previsão de atraso apontada pela CGU”, alegou a pasta.
 
Paternidade
 
Em março do ano passado, este site mostrou que palanque para a “reinauguração” por Lula e Dilma foi organizado pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), que mesmo na presença de Temer agradeceu aos dois ex-presidentes realização das obras.
 
“Não poderia deixar de me reportar ao governo que Vossa Excelência [Michel Temer] fez parte, o governo da presidenta Dilma Rousseff. A presidenta foi responsável pelo pagamento de 70% dessa obra. [...] É preciso relembrar as coisas a quem deixar de lembrar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presidente que iniciou essa obra”, disse Ricardo em discurso naquele 19 de março.
 
Também presente ao evento, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) saiu em defesa do emedebista. O tucano disse que Lula deu início às obras, mas que sua conclusão dependeu da “determinação” do atual presidente. Cássio afirmou ainda que aqueles que contestavam a ida de Temer à Paraíba “são os mesmos que, cumprindo o papel de inocentes úteis, se colocam contra a obra, contra a conquista do povo do Nordeste”.
 
De acordo com informações de bastidor obtidas pelo Congresso em Foco, Cássio Cunha Lima tentou falar três vezes por telefone com Lula para tentar amenizar o tom de seu discurso, mas o ex-presidente não atendeu nem deu retornou às ligações. A assessoria do petista não confirmou a informação à época. Já a do tucano ainda não respondeu à reportagem.
 
Fonte: Congresso em Foco

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