sábado, 12 de outubro de 2019

4º FESTIVAL DA JUVENTUDE Incentivo da família e dedicação ao trabalho garantem sucessão rural no Rio Grande do Sul

Difícil dizer o que é mais bonito, se é a vista do município de Alto Feliz (RS), se é a produção de frutas ou se é a relação da família Freiberger Andrioli. Avós, pais, tios, primos e irmãos, todos(as) trabalham juntos cultivando mudas de videiras, bergamotas (que você pode conhecer por mexericas), caquis chocolate e oito variedades de uvas – seis variedades de uvas de mesa e duas variedades de uvas americanas – na Frutícola e Viveiro de Mudas Freiberger & Andrioli, propriedade de 37 hectares que fica a cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre.
Foto: Débora Zimmer

Ao conceder a entrevista para essa matéria, o jovem Miguel Andrioli, de 22 anos, era só sorrisos. Para ele, a agricultura familiar significa qualidade de vida, segurança e realização. Aos 14 anos, ele saiu de casa para o seminário, com a intenção de ser padre. Mas aos 18 retornou para casa e se deu conta de todo o potencial do trabalho na terra.  

“O apoio e incentivo dos meus pais também foram fundamentais. Eles disseram que não obrigariam ninguém a ficar no campo, mas passaram o exemplo do trabalho deles, que já estão há 25 anos na propriedade, e dos meus avós, que estão há mais de 30. Depois que saí do seminário passei um período me sentindo um pouco deslocado, mas com o passar do tempo e de lidar com as coisas práticas, vi a fatura no final da produção e comecei a ver o valor do nosso trabalho”, conta o rapaz, que teve uma experiência de trabalho em uma vinícola próxima e viu que era mais vantajoso trabalhar com a família. “A renda é melhor e nós fazemos nosso próprio horário”, explicou.
 A produção de frutas é vendida na Ceasa em Caxias do Sul, e as uvas são vendidas diretamente aos clientes, que visitam a propriedade e colhem seus próprios cachos, numa espécie de turismo rural. Miguel trabalha com o irmão mais velho, Joel, que tem 24 anos e cursa Agronomia, e com o primo, Jailson, de 22 anos. Até a caçula Betina, de 12 anos, contribui nas horas vagas, ajudando a recepcionar os clientes que visitam o local. O rapaz explica que uma das principais razões para a permanência dos jovens na propriedade é que suas ideias e contribuições são ouvidas e consideradas pelos mais velhos. “E claro que aprendemos muito com eles também”, afirma ele.

O sucesso da colheita de uvas pelos visitantes pode ser atribuído ao infalível “boca-a-boca” e também à divulgação do trabalho em jornais locais e nas redes sociais. A Frutícola e Viveiro de Mudas Freiberger & Andrioli tem uma página no facebook administrada por Miguel, que coloca informações interessantes e muitas fotos do local. “Mas nossa família ainda é conhecida como viveirista, pela produção de enxertos de videiras. Produzimos de 35 a 50 mil enxertos de parreira por ano, que são vendidas aos produtores aqui na propriedade”, aponta o rapaz. 

Atuação no movimento sindical 

Miguel conheceu o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais por meio do tio, Jair Fernando Freiberger, que é presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Feliz – com extensão de base em Alto Feliz, Vale Real e Linha Nova. Em 2017, depois de ouvir a secretária de Jovens da FETAG-RS, Diana Hanz, afirmar que era preciso fortalecer a participação juventude na luta sindical, Jair convocou o sobrinho para as atividades do sindicato, e Miguel gostou do que encontrou. Atualmente, o rapaz é coordenador de Jovens da regional do Vale do Caí e faz parte da Comissão Estadual de Jovens da FETAG-RS. 

“Colaboramos com a Diana e estamos fortalecendo o trabalho de base, reforçando a importância dos e das jovens terem conhecimento. Por isso estamos começando a trabalhar com o Programa Jovem Saber. Além disso, eu estou no 4º módulo do curso da Enfoc e isso foi fundamental para eu ficar com mais vontade de aprender e de incentivar o conhecimento”. 

Sobre o 4º Festival Nacional da Juventude Rural, Miguel afirma estar entusiasmado. “Vamos organizar a juventude do Rio Grande do Sul porque sabemos que os direitos não são dados, são conquistados. Vejo como uma pauta importante o fortalecimento das políticas públicas para a permanência dos(as) jovens no campo, porque sei que há muitas dificuldades”. 

Como mensagem para toda a juventude rural brasileira, Miguel afirma: “Não precisa ter medo de agir. Acreditem na capacidade de vocês. Não acreditem nos rótulos que costumam colocar na juventude, de que somos inexperientes e não sabemos das coisas. Nós somos capazes, sim”. 

 Fonte: CONTAG

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