quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Sociedade Entrevista - Ricardo Antunes “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado”

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Referência na sociologia do trabalho, Ricardo Antunes diz ver a administração Temer como um governo terceirizado. "Foi imposto para devastar a legislação social"

Até o fim deste mês o plenário da Câmara dos Deputados deve votar a terceira das três partes do pacote que representa a maior perda de direitos da história para o trabalhador brasileiro, a reforma da Previdência. Se aprovada, ela seguirá para o Senado, onde já tramita a reforma trabalhista. A lei da terceirização já foi sancionada pelo presidente Michel Temer.
Para o sociólogo Ricardo Antunes, professor livre-docente da Unicamp e um dos principais nomes no País sobre os debates do mundo do trabalho, esse movimento contra os trabalhadores já era esperado. Em 1995, no livro Adeus ao Trabalho? (Cortez Editora), Antunes elaborou o conceito que chamou de “escravidão do século XXI” – um mundo do trabalho baseado na precarização e no esgarçamento das relações de trabalho como as conhecíamos até então.
Hoje, 22 anos depois do livro, essa figura sai do mundo acadêmico e é realidade nas ruas e nas empresas. Mais que isso: um ano após Michel Temer assumir a presidência, está prestes a se tornar legalidade. “A tragédia é que esse quadro se consolidou”, lamenta.
Antunes acredita, entretanto, que é justamente essa situação limite em que se encontra a classe trabalhadora que vai gerar a unidade necessária para a reação. A Greve Geral de 28 de abril, inclusive, é interpretada por ele como ponto de inflexão do movimento de luta dos trabalhadores. “A classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la”, diz.
Nesta entrevista a CartaCapital, Antunes comentou ainda o quanto o passado escravocrata brasileiro pesa nos interesses que levam à perda de direitos e sobre a necessidade do trabalhador se reconhecer como tal e se sentir representado pelos sindicatos. “A conflagração do nosso tempo é a conflagração entre a totalidade do trabalho social versus a totalidade do capital”.
E o enigma do século XXI? “O trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade. E o trabalho que estrutura a humanidade é incompatível com o trabalho que o capital quer nos impor”.  
Leia a íntegra da entrevista
CartaCapital: Seu livro Adeus ao trabalho?, de 1995, já falava que a tendência para o mercado de trabalho era a terceirização sem limites e que os trabalhadores se tornariam algo como “escravos do século XXI”. Como o senhor revisita esse pensamento diante das reformas que o atual governo tenta aprovar, especialmente a trabalhista e a da Previdência?
Ricardo Antunes: Uma das principais ideias que eu apresentava no Adeus ao trabalho? era que estávamos penetrando numa era de precarização estrutural do trabalho em escala global. O que naquele momento era uma relativa exceção – o trabalho precário, informal, terceirizado – tenderia a se tornar regra. E a regra – o trabalho contratado, regulado, com direitos – tenderia cada vez mais a se tornar a exceção. A tragédia é que esse quadro se consolidou.
CC: E esse é um movimento até mais antigo em outros países...
RA: Não paira nenhuma dúvida hoje, em escala global, de que estamos num processo de precarização do trabalho muito acentuada. Conheço as experiências da Índia, da China, de vários países da Europa e dos Estados Unidos, além do Brasil, e vejo que essa tendência é muito profunda.
Na Inglaterra, há a modalidade zero hour contract (o contrato de hora zero) que é o trabalho intermitente (proposta que consta na reforma trabalhista que tramita na Câmara dos Deputados). Médicos, advogados, atividades ligadas ao cuidado na saúde, eletricistas… As mais distintas categorias do chamado novo proletariado, especificamente o novo proletariado dos serviços.
Esses trabalhadores são chamados e recebem apenas pelo trabalho realizado: não há contrato e não recebem direito nenhum. Muitas empresas transnacionais e grandes corporações aderiram. No Reino Unido, os sindicatos dizem que esse tipo de contrato já abrange cerca de 1 milhão de trabalhadores e trabalhadoras, e isso se esparrama pelo mundo.
Da mesma forma, podemos citar o exemplo italiano, onde há o trabalho a voucher. O trabalhador ou a trabalhadora realiza o trabalho, recebe um voucher e depois vai receber por aquelas horas. Isso abriu caminho para uma precarização enorme. O patronato paga por 20 horas de trabalho pelo sistema voucher, depois contrata por mais 20 horas. É o trabalho precário absoluto, que paga, inclusive, o valor mínimo por hora permitido na Europa.
A constatação – e não estou falando da Índia, onde o quadro é mais brutal – é que na era do trabalho digital caminhamos para um mundo do trabalho onde a condição de precariedade é a tendência dominante. E contrariando a tese de que a era da tecnologia digital traria um admirável mundo do trabalho, nós vivemos uma situação que intensifica o que eu apontava na década de 90.
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Fenômeno é global: no Reino Unido o contrato zero hora, na Itália pagamento por voucher (Wikimedia Commons)

RA: O quadro brasileiro, o que vimos nos últimos anos, mesmo nos períodos de expansão econômica com Lula e Dilma, é que não houve redução no nível de precarização do trabalho. O governo Lula e parte do governo Dilma criaram 22 milhões de empregos porque o crescimento econômico foi forte. Mesmo assim, era muito frequente e até mesmo dominante o trabalho precarizado, com altas taxas de turn over, terceirizado, no espaço da burla. O trabalho terceirizado é o espaço da burla, o espaço da fraude.CC: Passados mais de 20 anos, mas ainda antes do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o senhor voltou a falar em escravidão. Agora que as medidas do atual governo parecem avançar, qual o cenário para o Brasil?     
Não por acaso, poucos trabalhadores podem entrar na Justiça, porque o trabalhador terceirizado tem que trabalhar, não tem nem tempo de entrar na Justiça. E quando eles entram e ganham as causas, frequentemente essas empresas já fecharam, já se constituíram outras empresas, com outros nomes, para poder fugir das penalidades decorrentes do não cumprimento da legislação social protetora do trabalho.
Enquanto nos anos 2000, especialmente a partir de 2005, tivemos uma expansão econômica, esse trabalho precarizado – importante dizer que naquela época a remuneração dominante era de um salário mínimo e meio – se alterou profundamente. Em âmbito global, por causa da crise de 2008, que devastou o mercado de trabalho, isso se acentuou. Quando essa crise chega nos países do sul do mundo, e em particular no Brasil, vem o período da devastação.
"A escravidão é uma chaga na classe dominante brasileira, que se acostumou e gosta da escravidão"
Por que eu faço uma alusão à escravidão? Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização ele é alugado. É uma locação de força de trabalho. E o governo Temer eu caracterizo como um governo terceirizado, ele foi imposto para devastar a legislação social protetora do trabalho no Brasil.
É evidente que não estamos voltando ao trabalho escravo de 1500, estamos falando de uma escravidão inclusive digital, do trabalho terceirizado, precarizado, informal, do trabalho sem direitos, de uma dependência do sistema perverso de metas, que tem levado a suicídios e adoecimentos do trabalho. Nós estamos em 2017, comemorando 100 anos da Greve Geral de 1917, e se esse processo não for obstado vamos regredir à condição vigente de trabalho de antes de 1917
CC: Na última semana um “filhote” da reforma trabalhista ganhou a mídia. O PL 6442 modifica toda a regulamentação do trabalho rural, abrindo a possibilidade, inclusive, de remuneração na forma de casa e comida. O que significa para o trabalhador rural, que mesmo com o amparo da lei já é um trabalhador mais vulnerável, ter seus direitos ameaçados como prevê o PL 6442?
RA: Não é por acaso também que dessas novas medidas – a terceirização total, o flagelo absoluto, a quebra do que restava de dignidade do trabalho – há a discussão de como eliminar um ganho que nós tivemos na última década que foi a caracterização do trabalho análogo à escravidão.  
Se quer eliminar o controle que conseguiu-se criar no Brasil, especialmente pelo Ministério Público do Trabalho e por uma atuação da Justiça do Trabalho mais crítica e voltada à defesa da dignidade do trabalho, um movimento que fez com que muitas empresas fossem denunciadas por praticarem o trabalho análogo à escravidão.
Há o movimento dos capitais, da agroindústria às grandes burguesias, inclusive financeiras, no sentido de acabar com essa figura do trabalho análogo à escravidão. Essa é a prova cabal de que se a classe trabalhadora, os movimentos sociais, os sindicatos, não resistirem com muita vitalidade, nós vamos regredir.
Uma das obrigações desse governo terceirizado é implantar a terceirização total. Por isso que o trabalho precarizado, corroído, aviltado e escravizado é a forma que o capital financeiro impõe para que o trabalho exista hoje em escala global. E isso vai ser menor ou maior de acordo com o nível de resistência sindical.
CC: Ainda pensando nas últimas medidas no Brasil para legalizar a precarização, mesmo que esse PL não seja aprovado, o que significa para o trabalhador brasileiro como um todo que ideias como essas sejam sequer aventadas?
RA: Significa, primeiro, no sentido mais geral, que o proprietário do agronegócio sonha com a escravidão. Com as exceções que sempre há. O nosso país viveu longos séculos de escravidão e isso é uma chaga na classe dominante brasileira, que se acostumou e gosta da escravidão.
O segundo ponto: você pagar o trabalhador rural ou a trabalhadora rural – e é importante ter essa dimensão de gênero uma vez que a divisão sexual do trabalho marca o mundo do trabalho – não em dinheiro, mas em alojamento e alimentação, me faz lembrar do cambão (trabalho gratuito que o trabalhador rural precisa conceder ao dono da terra), uma modalidade de trabalho muito vigente no campo brasileiro que originou as ligas camponesas, muito importante nos anos 60. O trabalhador fica dependendo da casa e da comida e a Constituição proíbe isso. É a burla que faz renascer a ideia do enriquecimento de uma classe às custas do vilipêndio da outra.
O terceiro ponto é que a nossa classe dominante, especialmente aquela que atua no campo, é poderosa. É importante lembrar que a CLT de 1943 foi resultado de uma força revolucionária do trabalho, mas teve sua configuração jurídica com o getulismo, um governo tipicamente burguês, ainda que com traços nacionalistas. Naquela CLT o trabalhador rural foi excluído porque a burguesia rural, muito forte então, tinha parte do controle do governo Vargas e impediu que a CLT chegasse ao campo.
Então esse PL, se vier a ser aprovado, vai mostrar a verdadeira face escravocrata do agronegócio do Brasil. E isso é inaceitável. Se a gente somar a esse traço escravocrata do agronegócio a superexploração do trabalho que caracteriza nossas burguesias do mundo produtivo e financeiro, temos o que tipifica o capitalismo brasileiro.
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PL do trabalhador rural coloca em xeque caracterização do trabalho análogo à escravidão (Wikimedia Commons)
CC: Tanto o PL 6442 quanto a própria reforma trabalhista permitem o alongamento da jornada de trabalho para até 12 horas, o trabalho intermitente, o home office… Se ao mesmo tempo o trabalhador se torna “escravo” por trabalhar sem limites, se fragiliza diante da precariedade do trabalho em si. Que paradoxo é esse e como ele contribui para fragilizar também a identidade desse trabalhador?
RA: É claro que esse cenário todo, que é profundamente ideológico, é muito poderoso. Na empresa, você tem um trabalhador contra o outro, um não pode conversar com o outro e as resistências e ações sindicais são combatidas. O salário é individualizado. Só ganha quando produz e quem produz mais ganha mais. E quem produz menos, perde o lugar. É o reino da competição selvagem. Isso macula a classe trabalhadora.
Imagina há quatro décadas, quando houve uma reestruturação produtiva brutal, uma neoliberalização devastadora que configura a forma da dominação capitalista hoje em escala global? E isso tudo é consolidado pelo mundo financeiro, um aspecto nefasto, uma tentativa de individualizar e colocar um contra o outro.
Baseada nessa heterogeneidade, que é tanto objetiva quanto subjetiva, tem um outro lado que é muito importante e esse é o calcanhar de Aquiles do capital, que é o traço homogeneizante da classe trabalhadora: justamente o processo de precarização. E isso é global e vai dos trabalhos digitais aos manuais.
Se a classe trabalhadora não resistir, estamos em franco processo de uberização do trabalho. E em escala global, seja o trabalho digital, seja o manual. Como não há uma muralha chinesa entre o trabalho digital e o manual, e uma dimensão não é absolutamente separada da outra, há um resgate da sensação de pertencimento de classe.
Essa homogeinização não faz, por exemplo, que a redução da jornada de trabalho seja um desejo. Tanto no trabalhador ou na trabalhadora mais estável quanto nos mais precarizados. Isso porque o principal temor do trabalhador com direito é o desemprego ou a terceirização. E o maior sonho do trabalhador terceirizado é ter direitos. A tragédia do capital é que ele não consegue arrebentar os coágulos que emergem do mundo do trabalho e que levam às rebeliões.
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A classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la, por isso a greve foi bem sucedida. (Antonio Perri/Unicamp)
CC: E é possível avaliar que a greve geral do dia 28 de abril foi um embrião pelo dessa rebelião?
RA: Por que a greve foi bem sucedida? Porque a classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la. Que a reforma da Previdência é para fazer com que ele morra sem se aposentar. Ou seja, vítima de uma previdência privada que pode lhe burlar. Essas são as questões vitais que fazem com que a fratura e a fragmentação da classe trabalhadora não seja um traço imutável. Pelo contrário, é um polo de aproximação, de solidariedade e de consciência.
É claro que num momento de crise econômica é difícil para o trabalhador falar “vou entrar numa greve” quando ele sabe que pode perder o emprego que ele quase não tem. Mas tem o outro lado: ele está percebendo que com esse governo totalmente destrutivo não há outra alternativa que não a resistência e a confrontação.
CC: Mas num momento de crise e também de polarização política como o que vivemos, como a falta de consciência de classe – aquele trabalhador que não se reconhece como tal – pesa e de certa forma catalisa a perda de direitos? 
RA: A consciência de classe é um processo muito complexo. Até porque ela é mais presente no operário metalúrgico, da indústria química, naquelas atividades onde o coletivo é relevante. Não se monta um carro sem atividade coletiva, mas se pode limpar um prédio inteiro com só um indivíduo limpando. Ele trabalha sozinho, tem outro trabalhando em outro andar, de tal modo que os laços de sociabilidade e de solidariedade são mais rarefeitos.
E as empresas jogam pesado nisso. Há casos de empresas de terceirização que transferem trabalhadores e trabalhadoras quando eles começam a se agrupar e discutir suas condições de trabalho. É até uma tendência do capitalismo do nosso tempo.
Mas o outro lado é que, para tragédia do capitalismo, o mundo do capital não se reproduz sem alguma forma de interação com o trabalho vivo. E dessa interação, nascem, florescem, emergem traços de aproximação e solidariedade. Esse não é um processo fácil, esse sentido de pertencimento de classe, mas quem achou que esse processo não ia mais ocorrer quebrou a cara e ninguém mais leva a sério. É mais complexo, é mais difícil, mas quando ele ocorre atinge as multidões.
CC: Então o senhor é um otimista quanto ao poder dos trabalhadores se reconhecerem, se organizarem e combaterem os retrocessos que estão sendo propostos?   
 "A classe trabalhadora precisa dizer nesse momento que quer sindicato, sim"
 
 RA: Não é que eu sou otimista, eu pesquiso e acompanho. Eu viajo e observo esse movimento em muitos países. O momento que nós estamos vivendo, se eu for usar uma expressão forte, é uma era contra-revolucionária, numa onda conservadora tão forte.
Eu reconheço esse cenário, o cenário da destruição, mas esse cenário da destruição não elimina a confrontação. Ele dificulta, ele reprime, como vimos no comportamento da polícia na Greve Geral no  Brasil. Só que repressão… nós enfrentamos 20 anos de ditadura e derrotamos a ditadura.
O governo Temer tem uma feição claramente de exceção, ainda que seja uma exceção aparentemente legal. Mas se você imaginar que quem faz essa lei é o Parlamento brasileiro, o que é possível esperar? Aqueles teóricos que afirmam que não há luta entre as classes naturalmente não sabem do que estão falando. A conflagração do nosso tempo é a conflagração entre a totalidade do trabalho social versus a totalidade do capital.
CC: E a Greve Geral no Brasil pode ser interpretada como um ponto de inflexão desse movimento?
RA: Pode. Era muito difícil para a classe trabalhadora, depois da derrota que foi o governo do PT, se unir. A classe trabalhadora saiu dele (do governo petista) muito machucada, pois foi um governo em que ela jogou muita expectativa. Não por acaso, não houve greve geral contra o impeachment. Ao mesmo tempo, aqueles que queriam o impeachment viram que o governo Temer não é o que eles imaginavam.
E hoje é diferente. A classe trabalhadora percebe que terceirização é uma questão vital, que arrebenta com o trabalho. O desemprego é vital, porque ele arrebenta o trabalho. A (reforma da) Previdência é vital, pois ela leva o trabalhador à morte quando ele se aposenta, ele não terá tempo para gozar a vida depois do trabalho. Então essas questões vitais, com o quadro político atual, provocam sim essa inflexão.
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Enquanto existir capitalismo, o sindicato é ineliminável. É uma espécie de ferramenta da classe trabalhadora (Flickr Commons)
CC: O senhor fala bastante na união dos trabalhadores e tradicionalmente isso é feito via sindicatos. Existe organização sem a força do sindicato?
RA: Enquanto existir capitalismo, o sindicato é ineliminável. É uma espécie de ferramenta da classe trabalhadora. A ferramenta pode estar enferrujada, judiada, amassada, torta, mas a classe trabalhadora sem os sindicatos sofre mais. A classe trabalhadora precisa dizer nesse momento que quer sindicato, sim. Como, aliás, é o preceito da convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Trabalho): o sindicato deve ser autônomo no sentido político, econômico e ideológico. 
CC: Um dos pontos da reforma trabalhista é o fim da contribuição sindical. Essa perda de recursos pode fragilizá-los ou a questão está mais na representatividade e na identidade dos trabalhadores com as categorias do que com dinheiro?
RA: Esse governo sabe que o imposto sindical, como dizia Vicente Matheus, é uma faca de dois legumes. O imposto sindical foi criado por Vargas na década de 30 para controlar os sindicatos. O imposto não é uma conquista do sindicato autônomo, pelo contrário. E ele pode ser nefasto, porque permite que o sindicato de carimbo exista sem associados.
Na história do sindicalismo brasileiro de 1930 para cá o imposto se tornou crescentemente uma fonte, definida pelo Estado, para sustentar o sindicato, o que já é uma aberração. Porque os sindicatos nasceram, na Inglaterra na revolução industrial, de forma autônoma. A tradição é de autonomia, inclusive para a sua preservação e manutenção. Aqui o imposto veio e ficou. Veio ditadura, veio Constituinte, e ele ficou.
Só que como o imposto sindical tornou-se, negativamente, um pilar de sustentação do sindicalismo brasileiro, inclusive do sindicalismo que tem um sentido crítico. A CUT nasceu em 1983 claramente contra ao imposto sindical. E por que o governo Temer faz isso hoje? Porque ele sabe que muitos sindicatos, inclusive aqueles com algum traço de combatividade, ainda dependem do imposto sindical ou de taxas negociais. Então a ideia do governo é jogar mais uma bomba e provocar mais destruição no meio sindical.  
Tem sindicato que há muito tempo não aceita o imposto sindical, que devolve para os trabalhadores. Esses entendo como os autênticos de ação sindical. Esses sindicatos estão mais em consonância com o espírito de autonomia dos sindicatos. Exemplo são os sindicatos de professores das universidades públicas e alguns de metalúrgicos, como os de Campinas e São José dos Campos. Eles têm outras formas de sustentação, inclusive mais autônomas.
Os trabalhadores devem sustentar seus sindicatos, que não devem depender do imposto que é tirado contra a vontade do trabalhador e entregue para centrais, federações, confederações e sindicatos que muitas vezes ele sequer participa e não os vê como representantes. Mas não pode eliminar numa tacada.
CC: Essa pergunta é quase uma provação, mas no fundo a discussão se resume a isso: qual o futuro do emprego?
RA: Se a lógica destrutiva que preside o mundo atual tiver vigência no mundo do trabalho teremos um trabalho terceirizado, do contrato zero hora e dos trabalhos intermitentes. E como eu falo no meu próximo livro: se tivermos sorte, seremos servos. Mas a coisa mais genial da história é que ela é imprevisível, é um empreendimento cotidiano.
O trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade. O trabalho que estrutura a humanidade – porque o trabalho é uma atividade vital – é incompatível com o trabalho que o capital quer nos impor. É o enigma do século XXI. Por isso é que é ficção a ideia de fim do trabalho. Como é um horror uma sociedade em que só se trabalha. O trabalho deve ser fundado em ser uma atividade vital, que produza coisas úteis, de acordo com o tempo socialmente disponível. E isso é um imperativo categórico para a sociedade do século XXI.
E não me venha dizer que o capitalismo é eterno. Ele não está em colapso, mas ele está em crise. Porque ele só se reproduz destruindo: a força humana que trabalha, a natureza, além da destruição feita pela guerra. Os anos áureos da capitalismo, da modernidade, são coisa do passado. Então qual é o futuro do emprego? É entre a servidão e a emancipação.
Fonte: CARTA CAPITAL

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

CORDEL EM HOMENAGEM A LEI MARIA DA PENHA

CONTAG e DIEESE alertam para os riscos da aprovação da terceirização irrestrita

Foto divulgação
O Supremo Tribunal Federal (STF) deve retomar nesta semana o julgamento que analisa a súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que limita a terceirização às atividades-meio. Na semana passada, a sessão foi suspensa com a votação em quatro votos a três a favor da possibilidade de terceirização de atividade-fim, como querem as empresas.

Os relatores de duas ações sobre o tema – uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF 324) e um recurso em repercussão geral (RE 958252), Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, são favoráveis à prática sem restrições. Fux considera a Súmula do TST inconstitucional, alegando violação aos princípios da livre iniciativa e da liberdade contratual. Barroso não vê relação entre terceirização e precarização.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) contesta a posição dos relatores por existir sim relação entre terceirização e precarização nas relações e condições de trabalho. Dentro do próprio STF, durante o julgamento, a ministra Rosa Weber fez referência a dados do Dieese ao justificar o voto contrário à terceirização. A remuneração média dos terceirizados é 24,7% inferior a dos contratados diretamente. A jornada de trabalho tem, em média, três horas a mais. Portanto, para a ministra, “a terceirização desvirtua a relação de emprego clássica”.
Segundo Nota Técnica do Dieese Nº 175, a aprovação das novas regras para a terceirização e o trabalho temporário não garantirá a segurança jurídica tão desejada pelas empresas, ao contrário, poderá levar à ampliação de conflitos e da judicialização dessas formas de contratação. “Para os trabalhadores e trabalhadoras, trará maior insegurança, instabilidade e precarização das condições de trabalho”, reforça a Nota Técnica do Dieese.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Fórum Econômico Mundial também já alertaram para os riscos às novas formas precárias de trabalho, como queda drástica da renda e, por consequência, do consumo, aumento da desigualdade social, evasão fiscal e aumento dos déficits previdenciários, além de impactos sociais fatais, como crescimento da pobreza e da criminalidade. Não é à toa que a Organização das Nações Unidas (ONU) cogita a volta do Brasil ao Mapa da Fome pelo aumento da pobreza, das desigualdades sociais e do desemprego, agravados com a aprovação da reforma trabalhista e com os cortes orçamentários drásticos nos programas Bolsa Família e de Aquisição de Alimentos (PAA).

O governo defende a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita alegando a necessidade de se fazer ajuste fiscal e fomentar a geração de empregos para superar a crise. No entanto, todos os estudos apontam que o efeito será contrário: piora na arrecadação fiscal e previdenciária, aumento da sonegação e da dificuldade de fiscalização ao estimular a excessiva fragmentação dos processos produtivos entre inúmeras prestadoras de serviço, pode comprometer o desempenho das empresas, em longo prazo, bem como o crescimento de despesas do Estado brasileiro com seguro desemprego ao estimular a rotatividade. “Portanto, qual é a vantagem de se aprovar a terceirização irrestrita a não ser o aumento do lucro dos empresários?”, questiona o secretário de Política Agrária da CONTAG, Elias Borges.

“Como ficará a ‘segurança laboral’ dos atuais e futuros trabalhadores terceirizados? Serão representados por sindicatos fortes e organizados, capazes de celebrar bons acordos coletivos? Terão garantias acerca do pagamento de salários e demais verbas, em caso de rescisão contratual? As condições de trabalho se equipararão às dos trabalhadores das empresas contratantes? As trabalhadoras terceirizadas terão oportunidades iguais às dos homens?”, esses são alguns questionamentos também levantados pelo Dieese em outra Nota Técnica, de Nº 172, sobre riscos iminentes caso a terceirização irrestrita seja aprovada pelo STF.

Nesse sentido, a CONTAG reforça o pedido para que os ministros e ministras do Supremo Tribunal Federal não aprovem a liberação da terceirização para todas as atividades. “O Judiciário precisa zelar pela segurança jurídica nas relações de trabalho e estar ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras”, defende Elias.

FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Verônica Tozzi, com informações do Dieese.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Cresce risco global por degradação do solo

Floresta Amazônica reduz capacidade de absorção de carbono chegando à quase zero

Foto: Reprodução/Internet.

Há cerca de 20 anos, a floresta amazônica era considerada um sumidouro de carbono, retendo todos os anos meia tonelada de carbono por hectare
Fundamental para a estabilidade do clima do planeta, a floresta amazônica, que até alguns anos absorvia carbono em quantidades muito significativas, do ponto de vista de balanço de carbono total, reduziu essa capacidade e hoje está chegando à zero. Os cientistas consideram a situação preocupante. Em um cenário futuro de mudanças climáticas, em que eventos extremos de secas e grandes inundações são mais frequentes, é possível que a floresta comece a perder carbono para a atmosfera piorando o já grave aquecimento global.
O alerta foi feito no Workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, na quinta-feira (16), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). O evento foi organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Inpa e Instituto Wilson Center.
As pesquisas na região mostram que a Amazônia é um ecossistema altamente crítico no clima global, controlando o ciclo hidrológico, a chuva sobre a própria Amazônia e sul do Brasil, e que armazena uma quantidade enorme de carbono. A ciência estima que a Bacia Amazônica abrigue 16 mil espécies de plantas arbóreas. Já se sabe também que a estação seca na Amazônia está se ampliando em seis dias por década, o que pode parecer pouco, mas é uma alteração significativa.
 Segundo o coordenador do workshop e professor da Universidade de São Paulo, Paulo Artaxo, a floresta amazônica até cerca de 10 a 20 anos fazia um serviço ambiental muito importante de reter todos os anos meia tonelada de carbono por hectare. Este serviço ambiental agora está indo para zero.
“Nosso medo é que, a partir de agora, a floresta, além de perder carbono para a atmosfera, e como ela corresponde a dez anos da queima de combustíveis fósseis, perca mais 2%, 3% ou 4% do carbono, pois isso vai aumentar muito o efeito estufa”, disse Artaxo, que também é presidente do Comitê Científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa/MCTIC).
Segundo o cientista, hoje a floresta é neutra do ponto de vista do carbono. Mas se forem diminuídas as emissões haverá possibilidade de voltar a ter a floresta retendo mais carbono do que emite. “É por isto que temos de lutar hoje”, afirmou.
As florestas tropicais são o lugar do mundo em que mais se estoca carbono na Terra. O carbono é o quarto elemento mais abundante na atmosfera e é um dos gases de efeito estufa. De acordo com o pesquisador da USP, Luiz Martinelli, se a floresta faz mais fotossíntese do que ela perde carbono pela respiração, essa floresta tende aumentar sua biomassa.
“É disso que estamos precisando, porque, devido ao grande aporte de carbono e CO2 na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, o clima da Terra está mudando. Então, é extremamente benéfico para o clima que a Amazônia continue limpando esse excesso de carbono na atmosfera, mesmo que lentamente”, explicou Martinelli.
As pesquisas apoiadas pela Fapesp e realizadas em colaboração com o Inpa serão apresentadas em um Workshop nos mesmos moldes deste de Manaus em Washington, no dia 25 de setembro. A proposta é apresentar para o Banco Mundial e o Fundo Amazônia quais as necessidades de pesquisas que se tem na Amazônia atualmente.
Participaram da mesa de abertura do Workshop o Comandante do 9º Distrito Naval, o Vice-Almirante Carlos Alberto Matias; o pesquisador da USP Paulo Artaxo; o diretor administrativo da Fapesp, Fernando Almeida; o coordenador de Pesquisas do Inpa, Paulo Maurício; o diretor-técnico e científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Décio Reis; o coronel Washington Rocha Triani, do Comando Militar da Amazônia (CMA); e o diretor do Brazil Institute Wilson Center, Paulo Sotero.
 “O Inpa desenvolve pesquisas em várias áreas, desde questões climáticas, agricultura sustentável até tecnologias sociais, que no seu conjunto podem ser aproveitadas para se ter desenvolvimento com base sustentável na região. A questão central é conseguirmos ter ressonância com os políticos quando vão construir os caminhos para a Amazônia”, destacou o coordenador de Pesquisas do Inpa, o pesquisador Paulo Maurício Alencastro.
No evento ainda foram debatidas iniciativas empresariais e de organizações não-governamentais de pesquisas e seus papeis no desenvolvimento sustentável na Amazônia, além do importante apoio logístico das Forças Armadas à pesquisa na Amazônia, especialmente com o programa do CMA, o Proamazônia.
Ponto de não retorno
De acordo com a pesquisadora do Inpa, Maria Teresa Fernandez Piedade, empresários, políticos e tomadores de decisão precisam entender que a devastação da Amazônia está chegando a um ponto de não retorno, e que isso será prejudicial para todos. Há fortes componentes atuando no desmatamento em níveis muito altos, juntamente com mudanças climáticas globais e ainda uma ação continuada de fogo.
Estudos mostram que a floresta já foi desmatada em 20% e se aumentar mais cinco pontos percentuais vai perder sua resiliência, alterando o ciclo hidrológico de maneira irreversível – ponto de não retorno, conforme artigo publicado na revista Science Advances assinado pelo professor da George Mason University, nos Estados Unidos, Thomas Lovejoy, que participou do Workshop via vídeo, e o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, o brasileiro Carlos Nobre.
Na parte central da Amazônia, onde se encontra Manaus, há previsões de modelos climáticos que mostram que a temperatura pode aumentar 5°C até 2050.
Valor econômico dos serviços ambientais
O Brasil não recebe compensação financeira pelos serviços ambientais que a Amazônia realiza. Só os serviços ambientais produzidos na América do Sul são estimados em 14 trilhões de dólares.
“Não há dúvidas de que, do ponto de vista econômico, o vapor de água que Amazônia processa e se transforma em chuva irrigando as culturas de soja no Mato Grosso, culturas de alimento no Rio Grande do Sul, Goiás e em São Paulo, todo esse serviço ambiental vale trilhões de dólares”, afirmou o pesquisador Paulo Artaxo.
Nas próximas décadas, as previsões são de alterações profundas no planeta que afetarão a economia do mundo, e o Brasil precisa se adaptar para esse novo cenário, segundo os cientistas, com a implementação de políticas públicas, melhorando a sustentabilidade, e implantando outras matrizes energéticas como solar e eólica, para as quais o Brasil tem grande potencial.
“Hoje a mais importante dessas políticas é reduzir a taxa de desmatamento da Amazônia que está em cerca de 8 mil km2 por ano, quando era há três anos de 4,5 mil km2 por ano. Essa taxa está aumentando e precisamos urgentemente reduzir o desmatamento na Amazônia até chegar ao desmatamento zero, e isso é possível”, destacou Artaxo.
Fonte: PÁTRIA LATINA

“Barbacena foi construída em cima de nossa história”, diz presidente de Associação de Índios Puri


Falar da história do Brasil também é falar da história dos povos originários e indígenas. Muitas etnias foram sendo exterminadas ao longo dos séculos ou foram forçadas a “perderem” suas culturas para serem dominadas pelas culturas europeias, dos colonizadores, que também podemos chamar de “etnocídio”.

Quem nunca ouviu falar que “minha avó foi pega a laço, meu bisavô era indígena, essa receita de chá é de família”?. E mesmo que não tenha uma história assim na família, muitas culturas e costumes passados de pai/mãe para os(as) filhos(as) têm forte influência dos povos indígenas, que viviam basicamente da caça, pesca e agricultura e tinham contato total com a natureza. Os rios, árvores, animais, ervas e plantas eram fundamentais para a vida dos indígenas.

E foi assim, com as histórias contadas na família, e também com estudos de historiadores e antropólogos que parte da população do Distrito de Padre Brito, em Barbacena/MG, descobriu-se indígena, da etnia Puris. E essa descoberta é recente. Há dois anos foi criada a Associação Regional Remanescente de Índios Puri de Padre Brito.

No dicionário, Puris são indígenas coroados do Espírito Santo e Minas Gerais. Os estudos mostram que essa etnia é originária do litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro e de acordo com o avanço da colonização, com a exploração dos Bandeirantes, os Puris foram sendo exterminados ou foram migrando para o interior, seguindo o curso da Bacia do Rio Paraíba do Sul, principalmente dos afluentes dos Rios Pomba e Muriaé. E há mais de 400 anos chegaram a Barbacena/MG.
Foto: César Ramos

Legenda: Na foto, da esquerda para a direita: Presidente do STTR de Barbacena, Sandra e Sária da Associação, e o presidente da CONTAG, Aristides Santos.

“Barbacena foi construída em cima de nossa história”, disse Sária Trindade Souza, presidente da Associação. Segundo Sária, o povo Puri de Padre Brito já foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do município e já foram realizadas duas edições do Festival da Cultura Indígena Puri, inclusive já constando na agenda oficial de eventos do município. No entanto, apesar do reconhecimento dos Puris pelo poder público local, a Associação luta pela garantia de direitos básicos, como educação, saúde e terra para produzir alimentos e ervas medicinais.

Sandra Aparecida da Silva, membro da Associação, disse que a escola do município fechou, apesar de oferecer boa estrutura, e que as crianças e adolescentes precisam agora estudar a 11 km de distância, num quilombo, em uma escola sem estrutura, em salas improvisadas, beirando uma rodovia, e são transportadas em ônibus sem monitores.

Outro problema enfrentado é a dificuldade de se autodeclararem indígenas no CadÚnico. De acordo com Sária, estão exigindo uma declaração da Fundação Nacional do Índio (Funai) atestando que são indígenas.

Em reunião com o presidente da Funai, Wallace Moreira Bastos, na tarde do dia 22 de agosto, em Brasília, foi reafirmado que não há necessidade de a Funai emitir uma declaração reconhecendo que são indígenas. “A própria pessoa se autodeclara indígena”, disse Bastos.
O secretário de Política Agrária da CONTAG, Elias Borges, e sua assessoria, bem como o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Barbacena, Márcio José da Silva, e a assessora jurídica da FETAEMG, Sônia Mara Prata, participaram da audiência com o presidente da Funai juntamente com Sária e Sandra da Associação Regional Remanescente de Índios Puri de Padre Brito. Durante a reunião, todos(as) foram informados que o processo de demarcação da terra indígena em Padre Brito já foi iniciado e que o órgão vai contribuir no diálogo com o poder público local para resolver a questão da escola, do CadÚnico e de outras políticas essenciais para a comunidade.

“Ao conhecer a história dessa comunidade e dos remanescentes dos índios Puri, vimos um processo muito bonito de descoberta e de assumir a identidade indígena. E para a CONTAG é um desafio representar esse povo, pois não são muitos os casos como esse. Mas, vimos muitas semelhanças com a agricultura familiar ‘tradicional’, já que em sua maioria atuam no trabalho agrícola, como meeiros, parceiros ou diaristas. Vamos continuar acompanhando o caso dessa comunidade e esperamos obter êxito das demandas apresentadas junto à Funai”, destaca Elias.

Fonte: FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Verônica Tozzi

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Oficina Regional Sobre Parcerias e Cooperações para o Fortalecimento da Agricultura Familiar reúne participantes do Pará, Tocantins e Amapá

Construir estratégias para superar os desafios da organização da produção e mercado por meio do fortalecimento de parcerias e cooperações entre as organizações da agricultura familiar e outras instituições e entidades: esse é o principal objetivo das oficinas regionais coordenadas pelas Secretaria de Política Agrícola, Secretaria de Jovens e Vice-presidência e Secretaria de Relações Internacionais da CONTAG que estão sendo realizadas ao longo de 2018 por todo o Brasil. O evento inicou essa semana (20 a 24 de agosto), o evento é realizado em Belém (PA) com a participação de dirigentes sindicais e agricultores(as) familiares dos estados do Pará, Tocantins e Amapá. A partir desta edição, a oficina contará também com a participação da Secretaria de Mulheres da CONTAG
 
“As mulheres são púbico fundamental na discussão da organização da produção, pois elas efetivamente contribuem nesse processo, mas muitas vezes seu trabalho é invisibilizado. Temos trabalhado essa questão a partir da agroecologia. No segundo semestre de 2017, por exemplo, fizemos um mapeamento das experiências de organização da produção agroecológica das mulheres. Além disso, sabemos que as jovens mulheres são as pessoas que mais deixam o campo em busca de oportunidades de trabalho e geração de renda, então trabalhar essa questão com esse público é muito importante dentro do debate da permanência do campo e da sucessão rural”, afirma a secretária de Mulheres da CONTAG, Mazé Morais.
 
A programação Oficina Regional Sobre Parcerias e Cooperações para o Fortalecimento da Agricultura Familiar inclui ainda debates com o presidente da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Econômica Solidária (Unicafes), Vanderley Ziger, além de representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de outras instituições relacionadas ao tema, assim como de associações e cooperativas da região que compartilharão suas experiências.
 
O evento também conta com a participação do secretário de Organização e Formação Sindical da CONTAG, Carlos Augusto Silva, que destacou os momentos de debate e contribuição dos(as) participantes. “Esse evento é muito importante por causa da diversidade do público e das experiências que eles trazem sobre os desafios próprios da região norte no que diz respeito ao escoamento da produção, à organização e planejamento, às motivações para o êxodo da juventude rural”, aponta o dirigente.

Como nas oficinas anteriores - realizadas nas regiões Nordeste I (Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) e Norte I (Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima) - a oficina conta com a participação da Secretária de Jovens, Mônica Bufon, e com o secretário de Política Agríciola da CONTAG, Antoninho Rovaris. 

As próximas oficinas serão realizadas em:
27 a 31 de agosto – Teresina (PI)
10 a 14 de setembro – Goiânia (GO)
15 a 19 de outubro – Florianópolis (SC)

22 a 26 de outubro – Vitória (ES)

Fonte: CONTAG